O Gênero Contos de Fadas
O gênero “conto de fadas”
Os contos de fadas são de origem Celta, são uma variação dos contos populares ou fábulas, por terem em comum uma narrativa curta e contada através da oralidade. Nestes contos há um herói que deve triunfar sobre o mal para salvar a heroína de terríveis perigos. São tipicamente mágicos, envolvem seres encantados e animais falantes. Em contraste com as fábulas, o conto de fadas deixa as decisões a nosso encargo, incluindo a opção de querermos ou não chegar às decisões. Cabe-nos decidir se desejamos fazer qualquer aplicação à nossa vida a partir de um conto de fadas, ou simplesmente apreciar as situações fantásticas de que fala, “[...] nosso prazer é o que nos induz a reagir segundo o tempo que estamos vivendo aos significados ocultos, na medida em que se pode relacionar à nossa experiência de vida e atual estado de desenvolvimento pessoal” (Bettelheim, 1980, p. 54).
Originalmente concebidos como entretenimento para adultos, os contos de fadas eram contados em reuniões sociais, nas salas de fiar, nos campos e em outros ambientes onde adultos se reuniam, e em sua forma original, traziam fortes doses de adultério, incesto, canibalismo e mortes hediondas. As versões hoje consideradas clássicas foram devidamente expurgadas e suavizadas e nasceram pelas mãos de Charles Perrault.
É a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerada diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta. No final do século XVII, quando se “inventa a criança”, Charles Perrault publica seus contos de fadas acompanhados de lições morais, pois, naquela época qualquer prazer que uma criança conseguisse extrair da leitura tinha que ser ligado a alguma forma de aprendizado, a idéia de infância era vista de forma indissociável à educação. Os primeiros livros infantis serviam para que os adultos moldassem as novas gerações de acordo com seus próprios interesses. Mas, com o passar do tempo foi ocorrendo algo que abriu novos e infinitos caminhos pelos quais era possível escapar a esse destino pré-traçado. A emoção, a ternura, a afetividade, e a alegria do relacionamento entre os que liam ou contavam as histórias para as crianças foi falando mais alto. Cada vez mais os contos foram sendo contados às crianças como entretenimento e prazer, enfatizando mais os conteúdos ocultos nestas histórias, já que em sua maioria, eram criadas e contadas por trabalhadores anônimos, sobretudo mulheres.
Na Alemanha um século depois, os irmãos Grimm, Hans Christian Andersen, na Dinamarca, Garret e Herculano em Portugal, publicaram uma coleção de contos de fadas sem nenhuma moral explícita, não se dirigindo aos leitores aristocratas nem aos cenários de sala de aula, mas falavam às crianças em casa. As obras dos irmãos Grimm, foram consideradas pela escritora brasileira, Ana Maria Machado em seu livro Contracorrente, (Conversas sobre Leitura e Política), um trabalho de amor por seu povo, sua cultura, e as gerações de contadores anônimos que, durante séculos tinham mantido as histórias que iriam transmitir às gerações futuras.
No final do século XVII, início do século XVIII, apareceram três livros, The Pilgrim´s Progress, de Jhon Bunyan (1678), Robinson Crusoe, de Daniel Defoe (1719), e Gulliver´s Travels,de Jonathan Swift (1726).Estes foram inicialmente escritos para adultos e não deixavam de trazer uma ideologia escondida, mas, os adultos que os liam gostaram tanto que passaram a compartilhá-los com as crianças, que os adotaram por livros infantis.
A partir do século XIX, os livros foram enquadrados na categoria de ficção popular, principalmente na Inglaterra, com exceção das obras de Lewis Carrol. Os livros transformaram-se em presentes de Natal, eram escritos em forma de folhetins e eram vendidos por capítulos. Posteriormente Lewis Carrol e Beatrix Potter, provaram através de suas obras que é possível escrever tendo em mente uma criança, e que os livros infantis têm a ver com afetividade, amor, intimidade, a sensação gostosa de contar uma história gostosa ao aconchego doméstico, não somente utilizados com finalidade “mercadológica” ou didática.
Os livros infantis, apesar de suas primeiras intenções obscuras, conquistaram adultos e crianças, através da relação de afetividade, que estabelecem com os leitores, instigando o imaginário propiciando uma viajem por terras desconhecidas, lugares mágicos, onde tudo pode acontecer, como é o caso dos contos de fadas.
O conto de fadas é um dos gêneros que pode servir como instrumento para o ensino/aprendizagem de leitura em língua inglesa, pois, engloba o auditivo (contar e ouvir histórias), o visual (a linguagem visual, seja de forma concreta através das ricas ilustrações, ou de forma imaginativa, do que se imagina ao ler, ou ouvir). Este gênero trabalha também com o cognitivo (as paixões da alma e as necessidades básicas do ser humano).
Coelho coloca que “por mais que os homens transformem o mundo em que vivem com sua inteligência e trabalho, sua natureza humana não muda”. Em sua natureza as “paixões da alma” (amor, ódio, amizades, medo,vontade de poder, ideais, desejos, inveja, ciúmes, solidariedade, fraternidade, etc) se misturam ao que é básico ao ser humano (ar para respirar, alimento para matar a fome e proteção para o corpo).”Tanto as “paixões” quanto as “necessidades básicas” são a matéria prima dos contos de fadas e de todos os livros que venceram o tempo através dos milênios ou séculos continuam a interessar os leitores e ouvintes” (COELHO, 2005, p. 10).
Os contos de fadas podem ser decisivos na formação da criança em relação ao mundo que a cerca e em relação a si mesma. As personagens classificadas em boas e más, belas ou feias, poderosas ou fracas, etc; facilita à criança a compreensão de certos valores básicos da conduta do ser humano ou convívio social. As crianças encontram nos contos de fadas categorias de valor que são perenes, o que muda é apenas o conteúdo rotulado de bom ou mau, certo ou errado. A Psicanálise explica que o amadurecimento emocional e os dilemas que o homem enfrenta durante sua vida estão ligados aos significados simbólicos. Os contos de fadas podem ser extremamente benéficos, pois, através deles, os alunos se remetem a situações próximas ao seu cotidiano e seus próprios problemas, estes se colocam no lugar das personagens ao qual se identificam, ou não, mostrando suas angústias sem medo de ser identificados. Assim as crianças podem enfrentar e superar os medos, as inibições, os perigos, as ameaças que a cercam podendo alcançar gradativamente o equilíbrio adulto. O meio ajuda o sujeito a se construir através das escolhas que este faz em relação às situações que vive e escolhe que caminho quer seguir (“certo” ou “errado”). Isto depende das experiências vividas particular ou coletivamente.
Ao pensar nos benefícios do trabalho com os contos de fadas, podemos refletir sobre a fala de Marcílio Hubner de Miranda Neto, que afirma que quando se ensina de uma forma divertida, são liberadas a dopamina e a serotonina, que são substâncias ligadas ao circuito do prazer e da atenção. Quanto mais vias neurais são criadas e utilizadas, mais eficiente se torna a aprendizagem e o pensamento, pois, nós construímos as visões de mundo através dos diversos sentidos: visão, tato, olfato, paladar, equilíbrio e a pré-percepção. Os contos de fadas podem proporcionar o trabalho com estes sentidos e esta diversão, deixando mais fácil a tarefa de ler, ouvir, falar e se expressar através das atividades de leitura (ir além), em língua inglesa . A tarefa de aprender não é uma tarefa simples, esta, vai exigir do aluno um forte envolvimento em uma atividade intelectual nada fácil: prestar atenção, selecionar, estabelecer relações, conscientizar-se delas, avaliar, dentre outras. Estar à disposição para realizar o processo que o conduzirá à elaboração de aprendizagens significativas, e em boa parte poder atribuir sentido a tudo isto. “Sentido”, como disse (Coll, 1998; 1990), aludimos aos componentes motivacionais, afetivos e relacionais da contribuição do aluno ao ato de aprender.
O sujeito precisa conhecer outros mundos, para aprender a conhecer o seu, viver outras vidas para analisar, entender e/ou modificar a sua, mergulhar nos sentimentos para entender o que sente, pois assim, poderá ler criticamente, e entender o que está escrito nas entrelinhas. O estudo dos “Contos De Fadas” como instrumento para o ensinoaprendizagem de leitura em língua inglesa, pode proporcionar esta interação, tornando a aprendizagem algo que interesse ao aluno.